Os males de Helena

Nos noticiários, nos artigos de revistas, nas conversas de amigos estava sempre o tal do bem-estar. São muitas as receitas, vários os ingredientes e combinações específicas para cada ser. Saber é diferente de fazer.

Em sua rotina, a dificuldade de implementar a teoria aprendida. Ignorava os males do corpo, as dores da alma, sentia as cicatrizes profundas e, aos poucos, sumir a alegria. Nadava contra a corrente do seu DNA, ignorava o relógio biológico. A vigília constante, roubando-lhe o sono,  fazia aumentar a sensação de desconforto com sua própria pele.

Tinha pavor, verdadeiro horror dos finais de semana: solidão e tempo de sobra pra prestar atenção à sua infelicidade. Vontade ela tinha, só não em quantidade suficiente para usar consigo mesma. O resultado: um ser infeliz, amargo.  Fruta verde arrancada do pé, amputada, isolada do mundo e de todos. Seguia sem rumo…dias nublados, esfumaçados pelas coisas fúteis, sombreados pelos muros do seu Tártaro. Tudo era “ok” – nem bom, nem ruim. Sem sal e sem açúcar.

Nos raros momentos de calma, pensava: preciso de um milagre para sentir esse tal de bem-estar. Memória de tempos felizes não tinha mais. Na lembrança, pequenas ilhas de alegria surgiam rodeadas pela areia do deserto... escassez de atenção, de carinho e de autoestima. Desejava chegar aos Campos Elísios, ter a oportunidade de regressar ao mundo dos vivos.

Os passos sempre apressados tentando acompanhar, ganhar do tempo, que galopa entre os ponteiros do relógio. O suor no rosto pouco tinha a ver com a temperatura; o sorriso, nada natural, é propaganda enganosa. Muita energia, uma agitação improdutiva. Segue, imaginando, recitando o que vai fazer antes mesmo de começar. Planejar, controlar. Alcançar o céu e mergulhar no mar, tudo ao mesmo tempo, sem intervalo, sem hesitação. Descendo a ladeira sem pisar no freio.

Sempre certa, no comando da operação, enfrentando a “batalha de viver”. Respirava sufocada, peito apertado... as vezes tonta, perdida no olho do furacão. Conectada ao mundo, com muita garra, gentileza e disponibilidade, construiu o seu caminho, a sua reputação. E o preço, valeu a pena? Não sabia responder.

A vida fica por um fio: pânico. Confusão, apatia, agressão, depressão. Inventar a realidade, trocar de lugar... mudar. Buscar a criança feliz. Pais rigorosos demais, bonzinhos demais, ansiosos demais... filhos inseguros. A tal herança familiar e a “as frutas que nunca caem longe dos pés”.

Viver no presente. Converter transtorno em serenidade. Sonhar, escutar e sorrir, habilidades que os males roubaram de Helena.