Era quinta-feira, final de expediente.
A luz do dia dava seus últimos
suspiros. Nessa época do ano, cinco e meia da tarde é quase noite - bem melhor
que há algumas semanas, quando a noite chegava por volta das três da tarde.
Talvez por isso mesmo, pela existência da luz, criaturas e pessoas comecem a
despertar da rabugice, da apatia quase anêmica e voltem a ser mais sociáveis,
mais risonhas.
Sempre que me perguntam sobre
como suporto temperaturas 20, 30 graus abaixo de zero respondo que o casaco bem fechado e a beleza da neve branca caindo são um santo remédio. A verdade é que, passado o Natal,
sinto o peso do inverno. Mais pelo tamanho do dia, ou melhor, pela escuridão
das tardes do que por qualquer outro fator.
Então, voltando àquela quinta à
tarde, caminho porta afora a passos sincronizados com outra pessoa. Sem motivo
aparente, como quem fala sozinha, encantada pelos raios do sol, ela solta um
suspiro e diz: “Puxa, que bom! Vou começar a planejar a minha horta.” E eu
respondo: “Também adoro essa época do ano.” Ela continua: “Eu adoro a minha
abobrinha gigante. As folhas são lindas, a abóbora enorme e exuberante. Sabe o
‘fulano’?” (não conhecia a pessoa pele nome na hora e também não me lembro
agora). “Então, a família dele tem cultivado abobrinhas gigantes por vários
anos e já tem muita gente plantando com as sementes que ele doa. Se falar com
ele, diga que eu lhe contei e peça algumas sementes para você.”
A essa altura, já estávamos na
esquina, onde nossos caminhos se dividiriam. Ela, animada, sorriso aberto diz:
“Assim poderíamos criar o Clube da Abobrinha.” Eu, também embriagada pela luz
do sol, respondi: “Que ótima ideia! Super legal mesmo!”
Seguimos cada uma sua estrada.
Eu a caminhar, pensando com meus botões, tomada por um bom humor contagiante,
ria sozinha rua afora. Um clube da abobrinha... O que será que fazem os membros
de um clube da abobrinha? Esgotado o assunto horta, plantação e receitas
culinárias, qual seria a serventia de um clube da abobrinha? Se estivesse no
Brasil, talvez pudesse significar um clube de conversa, onde os integrantes
viessem para "falar abobrinha", nada muito profundo, só passar o
tempo. Mas estando onde estou, e conhecendo a mania de clubes disso e daquilo
que há por aqui, cheguei à conclusão de que a proposta fora séria e que, talvez
a essa altura, com aquele "que ótima ideia" eu tenha me comprometido
a ser o membro número um do recém-criado clube da abobrinha.